Por Rosely Sayão
Por que é que você manda seus filhos à escola? Bem, reinício de aulas pode ser um bom momento para pensar na relação do filho com a escola que ele frequenta e também com o estudo. Mas, principalmente, é um bom momento para que os pais mudem a maneira de tratar esse assunto, se for o caso.
Os pequenos vão à escola para brincar, para ter relações afetivas com outras crianças e com adultos que não são da família e também para aprender. Mas, nessa fase, o ensino deve ser lúdico: a criança tem de ter espaço para realizar brincadeiras, deve ter adultos que se responsabilizem pelo seu bem-estar e que respeitem a etapa de seu desenvolvimento e suas capacidades.
Para essas crianças, esse é o período chamado de adaptação. Adaptação muito mais dos pais do que dos filhos, para um longo período de separação durante cada dia. Tem criança que chora, tem criança que faz escândalo, tem criança que simplesmente vai e fica, contente da vida. E tem pais que choram, tem pais que se desesperam, tem pais que não permitem que o filho fique na escola.
Muitas crianças relutam, sim, em ficar na escola nos primeiros dias de aula. Mas, se os pais, especialmente a mãe, confiam na escolha que fizeram, estão seguros da decisão que tomaram, basta suportar a reação inicial do filho, que ele conseguirá ir em frente.
Pode ser difícil encarar as lágrimas sentidas e o pedido do filho para que não o deixe com estranhos, para que os pais não se separem dele. Mas, se os pais forem firmes, o filho aceitará com mais tranquilidade a separação e, então, poderá desfrutar do espaço que ganhou.
Já os maiores vão à escola para começar a viver por conta própria, para aprender a conviver no espaço público, para exercitar a vida em grupo, para ter acesso ao conhecimento, agora de forma teórica. Mas vão, principalmente, porque os pais querem, ou seja, por obrigação.
Essa obrigação pode ganhar um sentido para o filho se os pais permitirem que ele estabeleça uma relação própria e pessoal com a escola. Para tanto, os pais precisam suportar a aprendizagem do filho, e isso não acontece de uma hora para a outra, sem tropeços, sem enganos. Para aprender, é preciso não saber, é preciso, muitas vezes, errar. E como tem sido difícil para os pais assistirem a esse processo dos filhos sem interferências diretas!
O melhor seria que os pais confiassem na escola a ponto de deixar que o filho resolvesse tudo sozinho por lá. É assim que se ensina independência, é assim que se dá autonomia ao filho, passo a passo. O filho reclama de atitudes dos professores? É um bom momento para ser incentivado a conversar com eles, a expressar seu descontentamento para eles, a buscar uma solução para a dificuldade que enfrenta.
A filha acha que tem tarefas demais a cumprir em casa? Deve ser encorajada pelos pais a expor sua opinião na escola. Quanto menos os pais comparecerem à escola para resolver os problemas do filho, melhor para os filhos.
Por falar nisso, começo de ano é um ótimo momento para os pais resistirem à tentação de fazer, com ou pelo filho, as lições de casa. Apenas organize o tempo de seu filho de modo que ele tenha um período do dia dedicado a isso e esteja atento para que, nesse período, ele não arrume outra atividade. De resto, é com ele e com a escola.
Se você passar o dia, a semana, o mês, o ano todo atrás de seu filho para que ele realize as tarefas que a escola determina, ele não vai aprender que essa é uma responsabilidade dele, pois vai ser dos pais. Finalmente: aprenda a respeitar a escola e a relação de seu filho com ela como um espaço que é dele, que não deve ser invadido pelos pais. Orientar, encorajar, tutelar, acompanhar, conversar a respeito, essas são as tarefas importantes dos pais no que diz respeito à vida escolar dos filhos.
Fonte: Folha de S. Paulo